quarta-feira, 30 de maio de 2012

RAIVA É UMA COISA, RANÇO TOTALITÁRIO É OUTRA

 
Bolívar Lamounier
29.05.2012

No Brasil, nem a camada social mais escolarizada tem muita clareza sobre o que foram os regimes totalitários do século 20. A maioria não se deteve no significado do conceito de totalitarismo.

Faço esta afirmação com a maior naturalidade, sem qualquer pretensão intelectualista e sem intenção de chocar ou causar surpresa. O Brasil, felizmente, não conheceu em toda a sua sinistra extensão a experiência totalitária. Esmagado militarmente, o nazifascismo terminou em 1945; e não descabe lembrar que os nossos jovens de 20 anos eram crianças de colo em 1992, quando a União Soviética desmoronou de vez.

Compreende-se, pois, que a maioria não tenha fixado bem o conceito e tampouco se toque emocionalmente quando o tema é discutido. Aos que se interessarem por ele, eu sugiro acompanhar com atenção certo discurso raivoso que surgiu esta semana nos meandros do petismo.

A tônica raivosa de tal discurso deve ser notada, mas não é o essencial. Hoje o blog ucho.info citou uma mensagem postada em seu microblog pelo deputado estadual Rogério Correa, do PT : Ei-la: “Se colocarem a mão no Lula, aposto em rebelião. Este golpe de vocês, Noblat, não tem o menor respaldo popular. Cuidado!”

A tentativa de intimidação contra o jornalista Ricardo Noblat é clara e ao mesmo tempo primária demais para merecer comentário. O que importa ressaltar é o ranço totalitário que a mensagem evidencia.

Para uma parte talvez majoritária do petismo, Lula não é um cidadão como os demais. Está acima das instituições e das leis. É intocável. O sistema de justiça e a imprensa nada têm de relevante a dizer ou a apurar sobre ele. A única instância relevante é, no caso, o partido, o PT, portanto, como diz o referido deputado, “não coloquem a mão nele”.

A questão não é o que Lula disse ou deixou de dizer, fez ou deixou de fazer. Contra o Führer, não cabe acusação alguma. Nada a apurar, aliás a ideia de apurar algo é em si inconcebível. O jornalista ou a autoridade que se atreve a cogitar isso coloca-se ipso facto na linha de tiro.

Portanto, “cuidado”, Sr jornalista, Sra autoridade. Lembre-se de que não estamos nem aí para as suas instituições ou para a sua ideia de ordem. Do ponto de vista totalitário, só existe a ordem ditada pelo Führer, e o partido está para ele como uma milícia está para seu chefe num país sem Estado.

(*) Emprego o termo Führer sem intenção de ofender: em alemão, é o exato equivalente de “leader” em inglês ou líder em português.

Nenhum comentário:

Postar um comentário