sexta-feira, 29 de junho de 2012

Ganha força na internet movimento em solidariedade a jornalista censurado pelo PT na Bahia:





Começa na internet movimento em solidariedade ao jornalista baiano Guilherme Vasconcelos demitido pelo governo do PT na Bahia após ter denunciado o aumento absurdo de verbas de publicidade do governo estadual daquele estado.

Para se ter uma ideia, enquanto na Bahia o investimento per capta em publicidade do governo é de R$ 9,00 em Minas Gerais é de R$ 4,00 (confira aqui o ranking do s estados).

A repercussão do caso vem crescendo – entenda o caso aqui - e se soma a outras denúncias de censura divulgadas contra o PT.

No Mato Grosso do Sul, o Ministério Público abriu processo contra o então governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT (1999 a 2006) pelo pagamento de propinas a jornalistas em troca de divulgação de reportagens favoráveis.

Em Minas, recentemente o prefeito de Nova Lima, do PT, censurou a circulação de uma revista que trazia denúncias contra a sua administração.

Recentemente o deputado Rogério Correia tentou censurar o jornal Estado de Minas, e a revista Veja que divulgaram matérias provando a proximidade do parlamentar com o conhecido falsário Nilton Monteiro, acusado de fraudar a “Lista de Furnas” e que responde na justiça a processos por falsificação de títulos de cobrança de mais de 300 milhões de reais.

Leia aqui as reportagens que desagradaram ao deputado: “A trama dos falsários” – Revista Veja, de 12 de dezembro de 2011; e, “O esquema do fraudador” – Estado de Minas, de 03 de fevereiro de 2012.

O deputado processa também um jovem tuiteiro que questiona sua atividade parlamentar na internet (veja aqui: “Acusado pelo deputado @rogeriocorreia_ do PT, prestei depoimento”..


Links relacionados:






quinta-feira, 28 de junho de 2012

Estímulo do governo dificilmente produzirá efeitos significativos


FONTE: Folha S. Paulo

Artigo do economista Luiz Carlos Delorme Prado



O Brasil não é uma ilha, e a crise econômica mundial chegou ao país. A desaceleração da economia brasileira tem duas causas: as ondas de choque da crise econômica internacional e a combinação dos efeitos domésticos da menor expansão do consumo das famílias e da queda dos investimentos públicos e privados.

A crise mundial começou com o crash do mercado imobiliário norte-americano (a crise do "subprime", hipotecas de alto risco) e alcançou a Europa. Afetou, inicialmente, o mercado financeiro e depois as contas públicas dos países mais vulneráveis.

Numa segunda fase, a crise vem ameaçando a existência do euro, mas também levou à desaceleração do crescimento dos Brics, embora de forma diferenciada.

O Brasil respondeu com sucesso à crise nos EUA depois do crash de 2008, com o aumento do consumo doméstico. O aumento da classe média, em decorrência do crescimento econômico e das políticas sociais do governo, favoreceu essa resposta.

Após as famílias terem respondido aos estímulos do governo com grande expansão do consumo -em parte, desperdiçado com uma taxa de câmbio sobrevalorizada-, o endividamento das famílias ficou elevado para as condições brasileiras.

Segundo dados do Banco Central, o estoque de crédito atual é de R$ 2,136 trilhões (maio de 2012), tendo alcançado 50,1% do PIB. Portanto, não há muita margem de crescimento por esse lado.

No momento, não é possível recuperar o crescimento econômico, a curto prazo, por meio de aumento do consumo privado. Resta o aumento do investimento.

O governo tenta aumentar o investimento privado por meio da redução da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), reduzindo o custo dos empréstimos do BNDES.

A resposta a esse estímulo, porém, dificilmente será suficiente para produzir efeitos significativos na economia. O governo não tem, portanto, outra alternativa a não ser aumentar o gasto público.

As cidades brasileiras precisam de investimento em transporte de massa, há carência de investimento em saneamento, necessidade de reformar e ampliar as estradas e os portos no Brasil. Por diversas razões, no entanto, o governo não tem conseguido aumentar o investimento de sua responsabilidade.

Como última saída, decidiu-se realizar gastos de curto prazo na aquisição de bens e serviços. Segundo a Folha, o governo aumentará as compras em R$ 8,4 bilhões este ano -comprará tratores, ambulância, trens, ônibus etc. A medida é bem-vinda e necessária. Mas muito pouco e muito tarde.


LUIZ CARLOS DELORME PRADO, professor do Inst. de Economia da UFRJ, é Ph.D em economia pela Universidade de Londres.


Para entidade, medidas anunciadas pelo governo não são suficientes

A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) classificou as medidas do governo como insuficientes para reverter o processo de "desindustrialização silenciosa" que afeta a indústria de transformação no Brasil.

"Aplaudimos as medidas e as consideramos necessárias, mas não são suficientes para garantir o estímulo à cadeia da indústria de transformação", disse Carlos Pastoriza, diretor da Abimaq.

Ontem, a associação divulgou novos dados. O consumo aparente atingiu R$ 10,9 bilhões para o mês de maio, crescimento de 24,4% sobre o mês de abril e de 16,1% sobre o mesmo mês do ano passado.

A recuperação, no entanto, tem ajudado as importações e não a produção local. As importações cresceram 26,8% de abril para maio, enquanto as exportações subiram só 4%. A ociosidade subiu para 25%. O setor já cortou 5.400 empregos desde outubro.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Petrobras leva tombo de R$ 22 bilhões

Reajuste da gasolina frustra investidores e ações da petrolífera despencam 8,95%. Início da operação do Comperj é adiado



Publicado no jornal O Globo – 26-06-12

“Frustrante, pequeno demais, tarde demais”. É como os investidores qualificaram ontem o reajuste no preço dos combustíveis anunciado pela Petrobras na última sexta-feira. Resultado: as ações da empresa despencaram ontem e tiveram a maior queda desde novembro de 2008, auge da crise financeira internacional. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) recuaram 8,95% e os ordinários (ON, com direito a voto), 8,33%. Em um único pregão, as ações perderam R$ 22,3 bilhões de valor de mercado, mais do que vale a Natura (R$ 20 bilhões).

O reajuste nos preços da gasolina (7,83%) e do óleo diesel (3,94%) entrou em vigor ontem. E, em apresentação para analistas de mercado do Plano de Negócios 2012-2016, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, deixou claro que os preços terão que sofrer novos reajustes nos próximos anos para garantir os recursos para os investimentos de US$ 236,5 bilhões previstos no plano. Segundo ela, a defasagem em relação os preços internacionais não foi totalmente eliminada, mas o aumento ajudará a companhia a seguir com seu programa de investimentos.

— O plano aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobras pressupõe paridade de preços internacionais — disse Graça.

Segundo ela, os investimentos também levarão em conta redução de custos, preço do petróleo e os atrasos nas obras:

— O controlador aprovou o plano de US$ 236,5 bilhões, em que o primeiro item é a paridade de preços. Nós não passamos a volatilidade dos preços internacionais ao consumidor, e vamos continuar não passando. Agora, vamos estar sempre que necessário, pelo menos uma vez por mês, mostrando ao nosso controlador a nossa condição de dar continuidade aos nossos projetos.

Hersz Ferman, gestor da Yield Capital, explica que o mercado esperava um reajuste maior, na faixa de 10% a 15%. Segundo estimativas do banco Credit Suisse, com o reajuste, a defasagem segue elevada na gasolina (7,5%) e no óleo diesel (18,6%). Além disso, como o governo zerou a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para não haver repasse ao consumidor do aumento aplicado nas refinarias o aumento praticado nas refinarias, a companhia terá cada vez mais dificuldades para negociar reajustes, afirma Emerson Leite, analista do banco. Isso porque o governo já não tem mais margem de manobra para evitar impacto na inflação.

— A Petrobras tem um plano de investimentos muito grande e precisa de caixa para executá-lo. Mas, se foi tão difícil e demorou tanto conseguir um reajuste na gasolina mesmo sem impacto na inflação, imagine agora — afirma Ricardo Corrêa, analista da Ativa Corretora. — Muita gente ficou otimista com a entrada de Graça Foster no começo do ano. Mas a realidade é que a empresa continua um mecanismo do governo para controle de inflação..

Obra em Itaboraí sem previsão de acabar

Os analistas também não gostaram da apresentação do plano de negócios. Segundo Gustavo Gattass, do BTG Pactual, a Petrobras fez uma “apresentação para engenheiro” e não para investidores. Ele explicou que os diretores da companhia falaram muito sobre gestão e metas e pouco sobre as estratégias da companhia. Graça embarcou ontem com diretores para apresentar o plano das empresas a investidores em Nova York, Boston e Londres.

Graça anunciou ontem que a Petrobras adiou o início da operação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em construção em Itaboraí, no Rio, e das duas refinarias Premium previstas para serem construídas no Maranhão e no Ceará. Ela garantiu que os projetos não foram cancelados, mas que seus prazos sendo reavaliados considerando seus custos e recursos disponíveis. Pelo cronograma anterior, a primeira refinaria do Comperj deveria entrar em operação em 2014, e a segunda em 2016. No momento não tem prazo algum definido. Segundo o último balanço do PAC 2, divulgado em março, até o fim de 2011 o Comperj já tinha 25% de suas obras realizadas. O governo exigia da Petrobras no balanço do PAC realizar até 29% das obras até abril. Foram investidos até 2010 (último dado disponível) R$ 2,9 bilhões no Comperj e a previsão é de mais R$ 19,2 bilhões para concluir a obra.

— Nenhum projeto foi retirado do plano. No Comperj, estamos reavaliando os prazos, de uma forma mais detalhada possível — destacou.

Já as refinarias Premium saíram do Plano de Negócios 2012-2016. No plano anterior, a Premium I, no Maranhão, deveria iniciar produção em 2016 e a Premium II, no Ceará, a partir de 2017. As obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, tiveram atraso de um ano em sua conclusão. A primeira unidade está prevista para novembro de 2014, contra setembro de 2013 previsto anteriormente. A segunda entrará em operação em novembro de 2015. Ao detalhar o novo plano de negócios com novos prazos para todos os projetos da companhia, Graça informou que o custo passou para US$ 17 bilhões, contra US$ 13 bilhões anteriores.

Empresa não cumpre metas desde 2003

Graça e toda a nova diretoria, apresentaram também as novas metas de produção de petróleo que foram reduzidas em relação ao plano anterior de 2012-2015. Pelas novas metas a produção nacional de petróleo caiu para 2,5 milhões de barris em 2015, contra 3 milhões em 2015 previstos anteriormente. Graça fez questão de demonstrar que, desde o início do Governo Lula, em 2003, a Petrobras nunca conseguiu cumprir as metas previstas.

Com o tombo das ações da Petrobras, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou em queda de 2,95%, aos 53.805 pontos. Também influenciou um clima externo negativo, com investidores apostando na falta de resolução na cúpula da União Europeia no fim da semana. O volume de negócios da Bolsa ficou em R$ 4,6 bilhões, num pregão marcado ainda por sérios problemas de conexão com o sistema da Bolsa. O dólar comercial fechou em leve alta de 0,09%, a R$ 2,066.

Petrobras leva tombo de R$ 22 bilhões

Reajuste da gasolina frustra investidores e ações da petrolífera despencam 8,95%. Início da operação do Comperj é adiado



Publicado no jornal O Globo – 26-06-12

“Frustrante, pequeno demais, tarde demais”. É como os investidores qualificaram ontem o reajuste no preço dos combustíveis anunciado pela Petrobras na última sexta-feira. Resultado: as ações da empresa despencaram ontem e tiveram a maior queda desde novembro de 2008, auge da crise financeira internacional. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) recuaram 8,95% e os ordinários (ON, com direito a voto), 8,33%. Em um único pregão, as ações perderam R$ 22,3 bilhões de valor de mercado, mais do que vale a Natura (R$ 20 bilhões).

O reajuste nos preços da gasolina (7,83%) e do óleo diesel (3,94%) entrou em vigor ontem. E, em apresentação para analistas de mercado do Plano de Negócios 2012-2016, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, deixou claro que os preços terão que sofrer novos reajustes nos próximos anos para garantir os recursos para os investimentos de US$ 236,5 bilhões previstos no plano. Segundo ela, a defasagem em relação os preços internacionais não foi totalmente eliminada, mas o aumento ajudará a companhia a seguir com seu programa de investimentos.

— O plano aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobras pressupõe paridade de preços internacionais — disse Graça.

Segundo ela, os investimentos também levarão em conta redução de custos, preço do petróleo e os atrasos nas obras:

— O controlador aprovou o plano de US$ 236,5 bilhões, em que o primeiro item é a paridade de preços. Nós não passamos a volatilidade dos preços internacionais ao consumidor, e vamos continuar não passando. Agora, vamos estar sempre que necessário, pelo menos uma vez por mês, mostrando ao nosso controlador a nossa condição de dar continuidade aos nossos projetos.

Hersz Ferman, gestor da Yield Capital, explica que o mercado esperava um reajuste maior, na faixa de 10% a 15%. Segundo estimativas do banco Credit Suisse, com o reajuste, a defasagem segue elevada na gasolina (7,5%) e no óleo diesel (18,6%). Além disso, como o governo zerou a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para não haver repasse ao consumidor do aumento aplicado nas refinarias o aumento praticado nas refinarias, a companhia terá cada vez mais dificuldades para negociar reajustes, afirma Emerson Leite, analista do banco. Isso porque o governo já não tem mais margem de manobra para evitar impacto na inflação.

— A Petrobras tem um plano de investimentos muito grande e precisa de caixa para executá-lo. Mas, se foi tão difícil e demorou tanto conseguir um reajuste na gasolina mesmo sem impacto na inflação, imagine agora — afirma Ricardo Corrêa, analista da Ativa Corretora. — Muita gente ficou otimista com a entrada de Graça Foster no começo do ano. Mas a realidade é que a empresa continua um mecanismo do governo para controle de inflação..

Obra em Itaboraí sem previsão de acabar

Os analistas também não gostaram da apresentação do plano de negócios. Segundo Gustavo Gattass, do BTG Pactual, a Petrobras fez uma “apresentação para engenheiro” e não para investidores. Ele explicou que os diretores da companhia falaram muito sobre gestão e metas e pouco sobre as estratégias da companhia. Graça embarcou ontem com diretores para apresentar o plano das empresas a investidores em Nova York, Boston e Londres.

Graça anunciou ontem que a Petrobras adiou o início da operação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em construção em Itaboraí, no Rio, e das duas refinarias Premium previstas para serem construídas no Maranhão e no Ceará. Ela garantiu que os projetos não foram cancelados, mas que seus prazos sendo reavaliados considerando seus custos e recursos disponíveis. Pelo cronograma anterior, a primeira refinaria do Comperj deveria entrar em operação em 2014, e a segunda em 2016. No momento não tem prazo algum definido. Segundo o último balanço do PAC 2, divulgado em março, até o fim de 2011 o Comperj já tinha 25% de suas obras realizadas. O governo exigia da Petrobras no balanço do PAC realizar até 29% das obras até abril. Foram investidos até 2010 (último dado disponível) R$ 2,9 bilhões no Comperj e a previsão é de mais R$ 19,2 bilhões para concluir a obra.

— Nenhum projeto foi retirado do plano. No Comperj, estamos reavaliando os prazos, de uma forma mais detalhada possível — destacou.

Já as refinarias Premium saíram do Plano de Negócios 2012-2016. No plano anterior, a Premium I, no Maranhão, deveria iniciar produção em 2016 e a Premium II, no Ceará, a partir de 2017. As obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, tiveram atraso de um ano em sua conclusão. A primeira unidade está prevista para novembro de 2014, contra setembro de 2013 previsto anteriormente. A segunda entrará em operação em novembro de 2015. Ao detalhar o novo plano de negócios com novos prazos para todos os projetos da companhia, Graça informou que o custo passou para US$ 17 bilhões, contra US$ 13 bilhões anteriores.

Empresa não cumpre metas desde 2003

Graça e toda a nova diretoria, apresentaram também as novas metas de produção de petróleo que foram reduzidas em relação ao plano anterior de 2012-2015. Pelas novas metas a produção nacional de petróleo caiu para 2,5 milhões de barris em 2015, contra 3 milhões em 2015 previstos anteriormente. Graça fez questão de demonstrar que, desde o início do Governo Lula, em 2003, a Petrobras nunca conseguiu cumprir as metas previstas.

Com o tombo das ações da Petrobras, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou em queda de 2,95%, aos 53.805 pontos. Também influenciou um clima externo negativo, com investidores apostando na falta de resolução na cúpula da União Europeia no fim da semana. O volume de negócios da Bolsa ficou em R$ 4,6 bilhões, num pregão marcado ainda por sérios problemas de conexão com o sistema da Bolsa. O dólar comercial fechou em leve alta de 0,09%, a R$ 2,066.

Mercado reduz PIB para 2,18%

Relatório Focus corta pela sétima vez previsão de crescimento da economia para este ano e pesquisa mostra atividade fraca em abril, o que reforça as expectativas de desaceleração

Publicado no Estado de Minas – 26-06-12

A “piada” contada pelo banco europeu Credit Suisse ao mercado brasileiro na semana passada – quando a instituição previu crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,5% em 2012 – pode voltar a ressoar nos ouvidos do ministro da Fazenda, Guido Mantega. A cada nova semana, especialistas revisam para baixo a expansão da economia brasileira e já a aproximam dos 2%. Segundo levantamento do relatório Focus divulgado ontem pelo Banco Central, os cerca de 100 analistas de mercado esperam PIB de 2,18% para este ano contra previsão anterior de 2,30%, sendo esta a sétima redução consecutiva, iniciada em 4 de abril. O próximo ano não passa ileso e também teve crescimento ajustado, ao cair de 4,25% para 4,20%.

Indicadores da atividade econômica como o da Serasa Experian, que revelou crescimento nulo do PIB nacional em abril na comparação com março, ajudam a traçar o cenário de pessimismo. “Desde quando foi divulgado o resultado do primeiro trimestre, abaixo do esperado, já ficou desenhado que o processo de recuperação seria mais difícil”, observa o economista da Serasa Experian Luiz Rabi. “O dado de abril vem na esteira dos primeiros três meses do ano, dando sinais de que o crescimento do segundo semestre também deve ser baixo”, acrescenta o especialista.

Na comparação com o mesmo mês do ano passado, houve crescimento de 0,6% da atividade econômica, fazendo com que no acumulado do primeiro quadrimestre de 2012 a variação do indicador atingisse 0,8% contra o mesmo período do ano passado. Já no acumulado de 12 meses encerrados em abril, a atividade econômica avançou 1,7%, menor que a taxa de 1,9% que foi registrada no acumulado de 12 meses encerrado em março. “A redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros pode até contribuir para uma pequena melhora dos resultados, mas nada que mude muito a cara do segundo trimestre”, pondera Rabi.

Para o sócio-diretor da Global Financial Advisor Miguel Daoud, o ano deve se encerrar com crescimento da economia abaixo de 2%. “Avalio que ficará entre 1,5% e 2%”, pondera. A nebulosidade que paira sobre a Europa e a dificuldade de recuperação dos postos de trabalho nos Estados Unidos ajudam a compor o cenário de incertezas. “Na Europa adotam-se medidas paliativas que não resolvem e não convencem o mercado”, afirma. A paralisação de investimentos diante de perspectivas pouco promissoras contribui para travar a expansão. “Apesar da queda da taxa Selic, não temos um ambiente de negócios. Por isso acredito que o Boletim Focus está começando a se ajustar à realidade que vivemos”, avalia Daoud.

Dívidas O alto endividamento das famílias funciona como mais uma barreira à expansão por meio do consumo interno. “Não existem no horizonte indicativos de que as medidas do governo surtirão os efeitos esperados, e, se surtir, serão pequenos”, prevê Daoud. Para Rabi, que compartilha da mediana de crescimento da economia prevista pelo mercado, a inadimplência tende a cair lenta e gradualmente no segundo semestre. “Mas os efeitos da desobstrução do crédito só devem ser vistos no último trimestre”, avalia.

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da Fundação Getulio Vargas recuou 2,8% entre maio e junho de 2012, ao passar de 127,1 para 123,5 pontos. Pelo segundo mês consecutivo, houve piora da avaliação sobre o momento atual e diminuição do otimismo dos consumidores em relação aos meses seguintes.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Entidades pedem mais transparência para o orçamento público


Publicado no site da ONG Contas Abertas 



Na última semana, diversas organizações e movimentos sociais protestaram, por meio de carta aberta, contra medidas adotadas pelo governo federal para modificar a estrutura de elaboração do projeto de Lei Orçamentária para 2013. Segundo as entidades, as medidas, adotadas em nome da “eficácia gerencial”, vão contra tudo o que já se construiu com muito esforço político em termos de democratização do processo orçamentário. “É um retrocesso com o qual se pode concordar”, diz a carta assinada por 53 instituições.

“A despeito dos avanços em relação à transparência orçamentária, e absurdamente na plenitude do debate do acesso cidadão aos dados produzidos e mantidos pelo Estado, no contexto da aprovação da Lei de Acesso à Informação, fazemos um alerta para mudanças importantes que o governo federal está implementando na metodologia de elaboração do orçamento público. São alterações que podem  impactar diretamente o controle social do orçamento e o papel do Legislativo na elaboração dos mesmos”, afirma o texto.

Segundo Manual Técnico de Orçamento 2013 (SOF, 2012; p.67), as ações orçamentárias passam por uma grande aglutinação. “Para isso, há perda de informação e descumprimento do Princípio da Especificidade, tão caro à transparência orçamentária e um entendimento já consolidado na teoria que orienta a boa administração pública”.

O Princípio da Especificidade (princípio da especialização ou discriminação do gasto público) constante da Lei 4.320/64, art. 5º, que diz que a Lei não consignará dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, material, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras, ressalvado o disposto no artigo 2º e seu parágrafo único.

Segundo o MTO 2013, as ações orçamentárias que estão sendo elaboradas para 2013 devem ser agrupadas a partir do critério da finalidade, ou seja, ficam evidenciados os serviços “finais” entregues à sociedade, os resultados da ação, reduzindo assim o “alto grau de pulverização do orçamento”. O detalhamento necessário para a execução das políticas, por sua vez, vai ficar a cargo do Plano Orçamentário (PO), que tem caráter somente gerencial e não consta na LOA. Ou seja, não será submetido ao crivo do Parlamento.

Segundo a carta, a medida limita o poder do Legislativo de especificar no orçamento a destinação de determinados recursos por meio de emendas. “Há nessa manobra um acúmulo ainda maior de poder no Executivo com relação às decisões políticas sobre o orçamento”.

Para as entidades, em tempos de Lei de Acesso à Informação, as mudanças inviabilizam instrumentos tão caros para o controle social da execução orçamentária e a transparência das informações. Da forma como essas mudanças chegam até nós, parece haver uma intencionalidade no sentido de fugir do controle externo. Com essa agregação ficaria impossível fazer monitoramento dos compromissos assumidos pelo governo da forma como é feito por intermédio dos orçamentos temáticos disponíveis no Portal do Siga Brasil.

A partir dessa análise, as organizações e movimento sociais reivindicam que o Governo cancele todas e quaisquer medidas que obstruam, dificultem e reduzam o acesso da cidadania e dos órgãos de participação e controle social às informações para o monitoramento do Ciclo Orçamentário. E mais, pedem a abertura de espaços democráticos de diálogo sobre a construção de novos instrumentos e mecanismos que viabilizem o controle social e assegurem a prestação de contas pelo governo, incluindo a compatibilização do Orçamento com os compromissos firmados com a cidadania em diversos espaços de participação social, a exemplo do que são as conferências.

“Reivindicamos que o poder Legislativo se manifeste e construa um diálogo público, democrático, inclusivo, com o Executivo no sentido de diminuir os efeitos dessas medidas aparentemente técnicas, mas de consequências políticas desastrosas. É preciso garantir a continuidade do controle social do orçamento, a transparência em relação às mudanças feitas e não permitir retrocessos na democratização do processo orçamentário”, concluem.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Os Correios, que estão na origem da crise do mensalão, continuam a casa da mãe joana. Ou: O caso Bacelar


Por Paulo César Pereira, no Globo:


Além de ter negociado emendas ao Orçamento da União, o deputado federal João Carlos Bacelar (PR-BA) controlava os Correios no seu estado e, segundo relatou sua ex-mulher Isabela Suarez em conversa gravada, teria tentado conseguir vantagens em uma licitação de agências da estatal.
Na gravação, Isabela afirma que Bacelar desejava comprar agências dos Correios e, para isso, contaria com a ajuda do então diretor da empresa no estado, Jackson Jaques, que havia sido indicado por ele para o cargo. 

A tarefa de seu nomeado seria informar as agências mais lucrativas para Bacelar investir:
“O superintendente do Correio era indicação do João. Na época, o Correio de fato licitou algumas agências para serem compradas. Como a superintendência era indicação dele, o cara chegaria e facilitaria, apresentaria “essas são as que rendem mais, então entre na licitação nessas e nessas aqui”, afirmou Isabela.

A ex-mulher de Bacelar, na conversa, considera a iniciativa do deputado normal, a partir do momento em que a indicação política do diretor dos Correios foi entregue ao partido do deputado: “Não tinha nada errado. Sim, é um favorecimento para indicar quais agências que vendem mais. Isso aí tem como você pesquisar sem precisar de favorecimento. E é normal, cada segmento ser controlado por um partido, não tem nada demais.”
Na conversa com Lílian, uma irmã de Bacelar, Isabela Suarez dá a entender, no entanto, que o parlamentar não teria concluído a operação de compra das agências. O motivo seria a perda do cargo na estatal para um grupo comandado pelo deputado federal Zezéu Ribeiro (PT-BA), apontado como patrono da indicação do atual diretor dos Correios na Bahia, Claudio Moras Garcia. Bacelar havia garantido a indicação para o cargo em 2009, como compensação por ter sido preterido na disputa pela indicação do diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) na Bahia.

Troca de diretor dos Correios teve ameaças

A troca de Jackson por Garcia, em junho do ano passado, provocou uma grave troca de ameaças. Na época, foi veiculado na Bahia que Bacelar procurou o presidente nacional dos Correios, Wagner Pinheiro, e ameaçou retaliar pedindo uma investigação na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara sobre a atuação dele quando presidia a Petros, fundo de pensão da Petrobras. Garcia, no entanto, foi mantido no cargo.
(…)

Gurgel ainda examina se vai pedir que Toffoli não julgue o mensalão


Por Carolina Brígido e Mariana Timóteo, no Globo:



O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que está examinando se vai pedir o impedimento ou a suspeição do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), para participar do julgamento do mensalão. Ele afirmou que, se for o caso, fará isso no julgamento, marcado para começar em 1º de agosto. Antes, Gurgel vai esperar um pronunciamento de Toffoli sobre o assunto. “Isso será examinado em um momento oportuno. Temos que aguardar a afirmação do ministro”, disse.

Gurgel afirmou que ainda não tem convicção formada sobre a conveniência da participação de Toffoli no caso. O ministro, por sua vez, não está com pressa. Perguntado sobre o que vai fazer, respondeu: “Ainda tenho as férias pra pensar.”
Nesta quinta-feira, O GLOBO informou que setores do Ministério Público querem uma providência de Gurgel. Antes disso, perguntado sobre o assunto, o procurador-geral dizia que a decisão caberia só a Toffoli.

Segundo o Código de Processo Civil, um juiz deve se declarar suspeito para atuar em um caso se for amigo de uma das partes. Toffoli foi chefiado por um dos réus no processo do mensalão, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, de 2003 a 2005. Além disso, Toffoli frequentava a casa de Dirceu.
A namorada de Toffoli, Roberta Rangel, foi advogada de um dos réus, o ex-deputado Professor Luizinho (PT-SP), para quem fez inclusive sustentação oral no plenário do STF em agosto de 2007, quando os ministros transformaram o inquérito em ação penal.

Outra polêmica no caso surgiu com as recentes declarações do ex-ministro da Justiça do governo Lula, o advogado criminalista Márcio Thomaz Bastos, que hoje defende o ex-diretor do Banco Rural José Roberto Salgado, um dos 38 réus do mensalão. Quando falava sobre corrupção e reforma política no programa “Ponto a ponto”, da TV Bandeirantes, no último dia 9, ele disse que o país chegaria “ao ponto em que a democracia, pela sua prática”, iria “resolver a questão” do mensalão.
“Lembremos que, no início do século passado, na Câmara dos Comuns do Reino Unido, havia um guichê onde os parlamentares recebiam o dinheiro, uma espécie de mensalão entre aspas da época”, afirmou Bastos, em seguida salientando que isso não havia impedido que a Inglaterra se tornasse um “país altamente democratizado”.

Essas declarações “passaram despercebidas, admitindo claramente a existência do mensalão”, opinou Merval Pereira em sua coluna de quinta-feira no GLOBO. Procurado pelo jornal, Bastos não deu declarações. A opinião entre especialistas consultados, porém, é consensual: o advogado foi infeliz em sua fala.

“Um ato falho. Ele era ministro na época em que o escândalo estourou e atuou como gerenciador daquela e de outras crises envolvendo o PT. O partido sempre lutou em negar o mensalão. Bastos acabou, assim, admitindo sua existência”, disse o cientista político Rubens Figueiredo, da USP.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

A luta dos professores


Publicado no jornal O Tempo



A reação do Ministério da Educação (MEC) às críticas que vem sofrendo dos professores universitários e dos institutos federais em greve mostra a total inabilidade do governo petista em lidar com movimentos reivindicatórios legítimos de seus trabalhadores e revela, ainda, a opção pela mentira para defender o arrocho salarial que imprime à categoria.

O MEC, no fim de maio último, incomodado com as críticas da professora Marina Barbosa, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), que lidera o movimento grevista, distribuiu nota à imprensa na qual afirma que "não há piso salarial de R$ 557,51" no âmbito do MEC.

É uma mentira grosseira do MEC, comandado pelo "doutor" Aloísio Mercadante. Basta uma simples consulta às páginas das instituições federais de ensino e da Casa Civil para comprovarmos a falsidade da afirmação.

A Universidade Federal de Santa Maria, por exemplo, publica em seu portal a tabela com os vencimentos dos professores federais de ensino, na qual está documentado que o salário base de ingresso dos professores, com jornada de 20 horas semanais, abrangidos pelo Plano de Carreira do Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, é de exatos R$ 557,51.

Na mesma tabela, comprovamos também que o governo federal paga, por um mestrado, uma gratificação de R$ 175,58. É o que foi fixado pela lei nº 11.784, de 22 de setembro de 2008 e seus anexos. É fato, não há firulas, dribles ou jogos de palavras ou manipulação de números que mude isso.

Agora, para fugir da constatação dos salários que paga aos professores federais, o governo federal quer somar a esse piso salarial - que na verdade é inferior ao salário mínimo legal - a gratificação pelo exercício da função e dar um reajuste ridículo de 4%, que não cobre sequer as perdas salariais acumuladas nos três últimos anos de congelamento.

O que assistimos hoje, no desenrolar da greve, é o Brasil real que passa à frente de nossos olhos. Surgem às centenas, país afora, casos espantosos, como o do campus Rio Paranaíba, da Universidade Federal de Viçosa, onde milhares de alunos estão tendo aulas em salas totalmente improvisadas, com grave risco para a saúde e a segurança.

Aqui em Minas, o PT passou meses criticando o governo estadual pela remuneração paga aos profissionais de ensino. Dizia fazer isso em defesa da educação. E agora, onde estão as lideranças do PT diante do quadro que mostra que o governo do Estado de Minas Gerais paga mais aos professores que o governo federal?

Onde estão os discursos indignados? Onde está a cobrança à imprensa para a divulgação da luta dos professores das instituições federias de ensino?

Professores, sejam eles da rede municipal, estadual ou federal, merecem o mesmo respeito da comunidade. Não merecem ser usados como massa de manobra.

Erundina diz que Lula passou dos limites ao tirar foto com Maluf


Publicado na Folha de S.Paulo




Em conversa com jornalistas, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) disse nesta quarta-feira (20) que a aliança entre PT e PP na disputa pela Prefeitura de São Paulo foi "um preço alto por uma coisa muito pequena".

Questionada se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou dos limites ao tirar foto com o deputado Paulo Maluf (PP-SP), seu adversário político, a deputada disse que sim.

Erundina abandonou ontem a chapa do petista Fernando Haddad por conta de Maluf. A avaliação do PSB foi de que a aliança poderia ter sido firmada de forma institucional e não expressa na figura do deputado.

Ela afirmou que sabia das conversas entre PT e PP, mas que foi surpreendida com a presença de Lula na feijoada que selou a aliança. "Aquele gesto foi ruim. O preço foi alto por uma coisa muito pequena. A mídia é importante, mas não determina o processo eleitoral se não vier somado a outras condições", disse.

A deputada disse que se não tivesse sido pega de surpresa poderia ter negociado de outra forma o apoio do PP. "Sabia que estava sendo discutida a aliança com PP por conta do interesse do tempo de televisão. Isso sim, mas não foi me dito que era coisa certa, definitiva. Não teria deixado chegar ao ponto que chegou", afirmou.

Ela disse ainda que não ficou com mágoa do ex-presidente. Erundina diz acreditar que a presença de Maluf no palanque de Haddad trará prejuízos ao petista.

"Poderá enfraquecer. Criou um clima de perplexidade. É um desconforto. A militância petista é feita de pessoas que têm exigências. Não são pessoas indiferentes ao que os dirigentes decidem", disse. Ela prometeu fazer campanha para Haddad e o chamou de melhor candidato.

PIB vai crescer só 1,5%, prevê Credit Suisse


Publicado no Estado de S.Paulo


Banco reduz previsão de crescimento da economia em 2012, que antes era de 2%, e Mantega reage classificando a projeção como uma 'piada'



A equipe de economistas do Credit Suisse reduziu de 2% para apenas 1,5% a projeção de crescimento para a economia brasileira em 2012. No relatório em que justificam a expectativa mais pessimista, os economistas destacam a redução drástica no ritmo do investimentos, que sairiam de 4,7% em 2011 para 0,3% em 2012, e a desaceleração do consumo das famílias,de4,1% para 3,3%.
As projeções do Credit Suisse, um dos maiores bancos de investimento do mundo, revoltaram autoridades brasileiras. No Rio, para participar da Rio+20, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, desqualificou o cálculo.

"É uma piada. Vai ser muito mais que isso", disse Mantega ontem à tarde, em rápida declaração a jornalistas à saída de um hotel na Barra, onde está hospedada a delegação brasileira.
No mês passado, em audiência no Senado, ele apresentou a nova estimativa do Ministério para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) este ano: 4%,meio ponto porcentual abaixo da anterior.
Além das tendências menos favoráveis para a economia do ponto de vista da demanda, o Credit Suisse também listou recuos nos componentes de oferta.

"Sob a ótica da oferta, nossa projeção assume retração de 1,8% para o produto da agropecuária e ligeira expansão do PIB industrial de 0,6%. O crescimento dos serviços,de2%,seria mais elevado que o do PIB, por conta da maior expansão dos segmentos menos sensíveis à demanda", diz o relatório.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, que também integra a comitiva presidencial na Rio+20, tentou contemporizar: "Acho que a visão que os europeus têm é necessariamente negativa por ser influenciada pelo clima por lá. A situação do mercado financeiro na Europa é muito ruim", afirmou Pimentel.
Para ele, os brasileiros teriam razões para estar mais otimistas diante do dinamismo da economia do País. Pimentel elogiou as medidas tomadas pelo ministério da Fazenda e o Banco Central para impulsionar o crescimento econômico em 2012 e afirmou que elas estão destravando o investimento para o segundo semestre.

"Não acompanho esse pessimismo do Credit Suisse.
Acho que nós vamos crescer mais que isso", disse o ministro.
Mas, preferiu não arriscar qualquer prognóstico.
Focus. O mercado financeiro não está tão otimista quanto o governo. Na última segunda-feira, o Banco Central divulgou o relatório Focus, no qual os bancos reduziam, pela sexta semana consecutiva, a aposta de crescimento econômico para 2012. De acordo com a pesquisa, a previsão recuou de 2,53% para 2,30%.

Quatro semanas atrás, a projeção era de crescimento de 3,09% neste ano.
O relatório de ontem do Credit Suisse puxou mais para baixo a tendência.
Segundo o documento, simulações feitas pela instituição" sugerem que a expansão do PIB de 2% em 2012 tornou-se menos provável, pois demandaria uma retomada muito expressiva da atividade no segundo semestre de 2012." "A diminuição da nossa projeção de crescimento do PIB no segundo trimestre, a ainda elevada incerteza global e a baixa probabilidade que atribuímos a uma expansão da economia muito expressiva nos próximos trimestres justificam a redução da nossa previsão de crescimento do PIB em 2012, de 2% para 1,5%", alegam os economistas.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Farsa histórica



A foto que incomodou Luiza Erundina e chocou o país, do ex-presidente Lula ao lado de Paulo Maluf para fechar um acordo político de apoio ao candidato petista à Prefeitura paulistana (o nome dele pouco importa a essa altura) é simbólica de um momento muito especial da infalibilidade política de Lula. 
Sua obsessão pela vitória em São Paulo é tamanha que ele não está mais evitando riscos de contaminação como o que está assumindo com o malufismo, certo de que tudo pode para manter ou ampliar o seu poder político.

O choque causado por esse movimento radical pouco importará se a vitória vier em outubro. Mas se sobrevier uma derrota, a foto nos jardins da mansão daquele que não pode sair do país por que está na lista dos mais procurados pela Interpol será a marca da decadência política de Lula, que estará então encerrando um largo ciclo político em que foi considerado insuperável na estratégia eleitoral. 
Até o momento, as alianças políticas com Maluf eram feitas por baixo dos panos, de maneira envergonhada, como a negociação em que o PSDB paulista fechava um acordo com o PP em busca de seu 1m30s de tempo de propaganda eleitoral. 
A própria Erundina disse, candidamente, que o que a incomodara foi o excesso de exposição do acordo partidário. 

Maluf, do seu ponto de vista, agiu com a esperteza que sempre o caracterizou, mas com requintes de crueldade. 
Ao exigir que Lula fosse à sua casa para selar o acordo, e chamar a imprensa para registrar o momento glorioso para ele e infame para grande parte dos petistas, ele estava se aproveitando da fragilidade momentânea do PT, que tem um candidato desconhecido que precisa ser exposto ao eleitorado para tentar se eleger. 

Lula, como se esse fosse o último reduto eleitoral que lhe falta controlar, está fazendo qualquer negócio para viabilizar a candidatura que inventou. 
Já se entregara ao PSD do prefeito Gilberto Kassab, provocando um racha no PT talvez tão grande quanto o de agora, e acabou levando uma rasteira que já prenunciava que talvez o rei estivesse nu. 
Agora, quem lhe deu a rasteira foi uma dupla irreconciliável, que Lula tentou colocar no mesmo saco sem nem ao menos ter se dado ao trabalho de conversar antes: Luiza Erundina, que um dia foi afastada do PT por ter aceitado um ministério no governo de coalizão nacional de Itamar Franco, agora se afasta do PT malufista. 

E Maluf, que vinha minguando como força política, viu a possibilidade de recuperar a importância estratégica em São Paulo no pouco mais de um minuto de televisão que o PP detém por força de lei. 
A sucessão de erros políticos que Lula parece vir cometendo nos últimos meses – a escolha de Haddad, o encontro com Gilmar Mendes, a CPI do Cachoeira, o acordo com Maluf – só será superada se acontecer o que hoje parece improvável, uma vitória de Fernando Haddad. 
No resto do país, o PT está submetendo os aliados a seus interesses paulistas, fazendo acordos diversos para garantir em São Paulo uma aliança viável. 

A foto de Lula confraternizando com Maluf tem mais um aspecto terrível para a biografia do ex-presidente: ela explicita uma maneira de fazer política que não tem barreiras morais e contagiou toda a política partidária, deteriorando o que já era podre. 
As alianças políticas entre Lula, José Sarney, Fernando Collor e Maluf colocam no mesmo barco políticos que já estiveram em posições antagônicas fazendo a História do Brasil, e hoje fazem uma farsa histórica. 

Em 1989, José Sarney era presidente da República depois de ter enfrentado Paulo Maluf no PDS. Ante uma previsível vitória do grupo de Maluf derrotando o de Mario Andreazza, Sarney rompeu com partido que presidia, ajudou a fundar a Frente Liberal (PFL) e foi vice de chapa de Tancredo. 
Na campanha presidencial da sucessão de Sarney, Lula disse o seguinte dos hoje aliados Sarney e Maluf: "A Nova República é pior do que a velha, porque antigamente era o militar que vinha na TV e falava, e hoje o militar não precisa mais falar porque o Sarney fala pelos militares e os militares falam pelo Sarney. Nós sabemos que antigamente se dizia que o Adhemar de Barros era ladrão, que o Maluf era ladrão. Pois bem: Adhemar de Barros e Maluf poderiam ser ladrão (sic), mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da Nova República, perto dos assaltos que se faz". 
Na mesma campanha, Collor não deixou por menos: chamou o então presidente Sarney de "corrupto, incompetente e safado". 
Durante a campanha das Diretas Já Lula se referiu assim a Maluf: "O símbolo da pouca-vergonha nacional está dizendo que quer ser presidente da República. Daremos a nossa própria

Confiança em investir é a menor em 3 anos

Publicado na Folha de S.Paulo





Previsão de investimento na indústria é a pior desde a crise de 2009, mostra levantamento da Fundação Getulio Vargas
Empresários apontam turbulência na Europa, ociosidade em linhas e lucros menores como razões para pé no freio


Com mais ociosidade nas linhas de produção e lucros em queda, empresários da indústria indicam que a fase atual é a pior para investir desde o auge da crise, em 2009. Eles indicam dificuldade para alocar recursos próprios em projetos e demanda mais fraca.
O diagnóstico é da Sondagem de Investimentos da Indústria, realizada em abril e maio e divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio. Foram ouvidos representantes de 879 indústrias, com vendas totais de R$ 531 bilhões.
De acordo com Aloisio Campelo, coordenador da FGV, o fraco crescimento econômico, a queda da produção industrial, o aumento da capacidade ociosa nas fábricas e a crise europeia diminuem o otimismo de empresários, que adiam investimentos diante das perspectivas mais pessimistas para os próximos meses.

DIFICULDADE

Diante desse quadro, 43% das empresas responderam, em abril e maio, que encontram dificuldades para investir -dez pontos percentuais acima do registrado no mesmo período de 2011 (33%).
O número é o maior desde a pesquisa de abril/maio 2009, quando a crise global então vivia uma das fases mais agudas.
"O empresário está claramente mais receoso", afirma Campelo.
As companhias mostram-se desmotivadas a investir em novos projetos, na compra de máquinas e até mesmo em ganhos de eficiência, algo que costuma persistir até mesmo em momentos de crise.
"Isso é ruim porque o investimento em eficiência se traduz em aumento da produtividade no futuro."

EFEITO DA DESONERAÇÃO

Segundo a pesquisa, 19% das empresas nem sequer mantinham programas de investimento e somente 30% planejavam expansões -em ambos os casos, no maior nível desde abril/maio de 2009.
Para Campelo, o desestímulo para novos investimentos contagia todos os setores de modo mais ou menos linear. O que muda são as razões para adiar os investimentos ou desistir dos projetos.
Entre todas as empresas, as principais dificuldades para investir são a falta de recursos próprios, decorrente da menor rentabilidade das companhias, e o enfraquecimento da demanda diante da crise. O crédito não está entre os maiores entraves.
Os dados mostram, porém, que as empresas mais beneficiadas por medidas de desoneração e programas de estímulos do governo estão mais propensas a investir.
É o caso, por exemplo, dos fabricantes de bens duráveis (móveis, eletrodomésticos e veículos) -47% deles planejam investir em aumento da capacidade.
Para as fábricas de não duráveis (alimentos e vestuário) o percentual é menor: 27%.

Modelo de investimentos estatais no Brasil dá sinais de desgaste, diz 'NYT'


Publicado na Folha de S.Paulo 


O modelo de investimentos estatais, com sua grande influência nos rumos da economia brasileira, dá sinais de desgaste, afirma reportagem desta quarta-feira do "International Herald Tribune", a versão internacional do "New York Times".
Fontes ouvidas pela reportagem dizem que a grande influência desses investimentos gera dependência econômica da mão estatal, pode sufocar o setor privado e provoca excessos: tantos projetos são difíceis de serem administrados simultaneamente, gerando atrasos, aumento de custos e problemas relacionados à mão de obra.

DEPENDÊNCIA

"Mas, num eco do debate sobre gastos estatais na Europa e nos EUA, a ação de Rousseff está provocando ceticismo. Alguns temem que o Brasil esteja ficando muito dependente nos gastos estatais para amenizar os altos e baixos de sua economia baseada em commodities, enquanto outros temem que isso sufoque o setor privado, algo que pode reduzir o crescimento no longo prazo."
O texto cita o papel do BNDES e sua participação em quase 200 empresas brasileiras (contra 95 há uma década) e projetos ligados ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e à Copa do Mundo de 2014.

A reportagem do NYT aponta que "vários projetos de infraestrutura foram aprovados ao mesmo tempo, de estádios a hidrelétricas". Com isso, a alocação de recursos ficou difícil de ser gerenciada. "Atrasos e excessos de gastos, parcialmente derivados de falta de mão de obra, afetaram o projeto de US$ 4 bilhões de transposição do rio São Francisco", segue o texto.
Ao mesmo tempo, porém, o jornal aponta que tanto o governo como empresas estatais, como a Petrobras, defendem o modelo como um "catalisador" para a criação de empregos e a redução da desigualdade no Brasil.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Dinheiro da Delta a empresa fantasma saiu do Dnit, diz PSDB


Publicado no jornal O Globo


           

          Partido volta a cobrar convocação de Fernando Cavendish e Luiz Antonio Pagot


A Alberto e Pantoja - empresa fantasma apontada pela Polícia Federal como parte do esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira - recebeu pelo menos R$ 29,9 milhões da construtora Delta entre maio de 2010 e abril de 2011. Esses recursos, segundo levantamento realizado pela liderança do PSDB no Senado, eram provenientes de pagamentos realizados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e depois foram distribuídos pela Alberto e Pantoja para pessoas físicas e jurídicas envolvidas com o bicheiro.

A liderança do PSDB fez um cruzamento tomando como base os pagamentos recebidos pela Delta nacional entre janeiro de 2010 e dezembro de 2011. O dinheiro saía do Dnit e era depositado em duas contas correntes no Rio. No total, no período, a construtora recebeu R$ 985 milhões somente nessas duas contas identificadas pela equipe do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Desse total, R$ 29,9 milhões foram parar na conta da Alberto e Pantoja. Os saques, no mesmo período, somam igual valor.

Alguns destinatários dos pagamentos realizados pela empresa considerada fantasma são conhecidos da investigação. O contador de Carlinhos Cachoeira, Geovani Pereira da Silva, que está foragido, foi beneficiário de vários cheques que somam R$ 8,3 milhões. Luiz Carlos Almeida Ramos, irmão de Carlinhos, recebeu dois cheques que totalizam R$ 119 mil. Wladmir Garcez, ex-vereador de Goiânia e apontado pela PF como braço político do esquema de Cachoeira, obteve depósitos de R$ 33 mil.

No levantamento, também aparece um cheque de R$ 45 mil, em abril de 2011, para Bruna Bordoni. Ela é filha do jornalista Luiz Carlos Bordoni, responsável pelos programas de rádio durante a campanha de Marconi Perillo (PSDB) ao governo de Goiás, em 2010. A confecções Excitant, que emitiu três cheques, entre março e maio de 2011, para pagamento da compra da casa de Marconi, também recebeu recursos da Alberto e Pantoja. Foram duas transferências interbancárias, que somaram R$ 650 mil. Uma delas é no valor de R$ 400 mil, em maio do ano passado, valor idêntico ao depositado por Marconi em sua conta.

Ontem, o líder do PSDB, Álvaro Dias, disse que o cruzamento de dados revela a importância de a CPI do Cachoeira ouvir o ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish, cujo requerimento foi derrotado na semana passada.

- Apresento esse trabalho, senhores senadores, para comprovar que não se pede por pedir, não se exige simplesmente pelo gosto da exigência, mas porque é necessário ouvir, para adotar providências posteriores, o senhor Fernando Cavendish e o senhor Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Dnit, que, aliás, surpreendentemente, afirmou ter sido derrubado do cargo que ocupava pelo bicheiro Cachoeira e pelo empresário Fernando Cavendish - discursou Dias.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O Brasil sob Dilma e o PT: uma análise da conjuntura



Publicado no jornal O Tempo 



Dia 4 de junho, segunda-feira, subi à tribuna da Câmara dos Deputados para compartilhar com alguns poucos deputados presentes e através da rádio Câmara e da TV Câmara a visão que tenho sobre o momento vivido pelo Brasil. Somos cobrados pela imprensa, nas redes sociais, no meio político, em relação a uma suposta ausência e omissão das oposições. No Congresso existe uma combativa e qualificada oposição, mas quase ninguém fica sabendo.

Registrei que, em 2011, tivemos o menor crescimento econômico da América do Sul, o antepenúltimo da América Latina, muito inferior aos Brics. Afirmei que algo vai mal e a retórica governamental não consegue mais esconder isso. Os investimentos estão despencando, o consumo cresce moderadamente, o crédito perde fôlego.

Afirmei que o governo do PT não tem coragem e convicção para ampliar as parcerias com o setor privado. O PT privatiza pouco, mal e de forma envergonhada. Destrói a capacidade das agências regulatórias e deixa nebuloso o ambiente regulatório. Perde investimentos.

Ao invés de avançarmos rumo ao século XXI, apontamos para um retorno ao modelo primário exportador do Brasil pré-1930. Demonstrei que as medidas tópicas não estão surtindo efeito. O governo Dilma revela baixíssima vontade e capacidade reformista. Falta liderança.

Depois de reconhecer mudanças positivas de Dilma em relação a Lula, como o reconhecimento do legado de FHC, a moderação na retórica cotidiana, a maior observância da liturgia do cargo, registrei minhas preocupações políticas.

Nunca houve uma hegemonia tão grande no Congresso Nacional, com as oposições circunscritas a menos de 20% dos votos. O PT transformou o presidencialismo de coalizão em verdadeiro presidencialismo de cooptação. Verbas orçamentárias e cargos agem para a formação de uma maioria flácida e sem identidade programática.

Apontei que sentimos a ressurreição da velha vocação autoritária da esquerda. Destaca-se neste plano a desastrosa atuação do ex-presidente Lula, que sem nenhum respeito à liturgia do cargo, se achando acima das leis, da Constituição e das instituições democráticas, procura destruir reputações, aniquilar adversários, instrumentalizar a CPMI do Cachoeira, reabilitar companheiros como Erenice Guerra, achincalhar a legislação eleitoral num comício eletrônico recente em famoso programa de televisão.

O desequilíbrio no jogo político fica evidente na prestação de contas dos partidos em 2011. O PT arrecadou de doações privadas R$ 50,7 milhões, dez vezes mais do que PMDB e PSDB somados. Isto é justo, ético, normal?

As oposições e o PSDB consolidarão cada vez mais o seu papel. A história nunca é definitiva e não permitiremos o crescimento de uma cultura política de "partido único".
Estaremos prontos para defender nossos princípios e nossos valores alimentados pela memória dos grandes timoneiros da redemocratização: Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro e Mário Covas.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Greve anunciada na UFMG

Publicado no Estado de Minas 



Professores decidem cruzar os braços na terça-feira e acompanhar movimento que já parou 48 universidades e institutos federais no país. Reitoria ainda não avaliou efeitos no ano letivo

Os professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) decidiram ontem entrar em greve na terça-feira. A decisão foi tomada em assembleia geral no auditório da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), no câmpus Pampulha. No estado, já estavam em greve docentes de outras oito universidades federais, além do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas (Cefet-MG) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas (IFSudeste-MG). No país, já chegam a 48 as universidades e institutos federais paralisados.

Na UFMG, a matrícula de calouros, suspensa segunda-feira devido à paralisação dos servidores técnicos e administrativos, em greve desde 21 de maio, ainda não tem data para ocorrer. A administração da universidade informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não sabe se o calendário acadêmico sofrerá outras mudanças em decorrência da paralisação dos professores. A reitoria da UFMG alegou que não foi comunicada formalmente sobre a greve.

Filiados à Federação de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes), em nível nacional, e ao Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte e Montes Claros (Apubh), em nível estadual, os docentes da UFMG apresentam reivindicações semelhantes às dos colegas das outras instituições mineiras em greve, associados ao Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), que decretou a paralisação em 17 de maio. Os professores da UFMG também pedem reestruturação da carreira e aumento do piso salarial para 20 horas semanais, mas o valor pretendido pela Andes-SN (R$ 2.329) é menor do que o recomendado pela Apubh (R$ 2.700).

“O piso atual é de apenas R$ 1.541,52”, afirma o presidente do Apubh, João Maurício Figueiredo. “Desde 2009, o governo federal fala em discutir carreira e recomposição salarial, mas não apresentou nada. A categoria se cansou de esperar”, explica. Na terça-feira, dia da paralisação, os professores se reúnem novamente às 9h no auditório da Reitoria da UFMG, para rediscutir as pautas e definir novos encaminhamentos para a greve. Os docentes prometem se reunir em várias unidades da instituição para convencê-los da importância de aderir ao movimento.

NEGOCIAÇÃO 

No fim da tarde de ontem, diretores da Andes-SN e do Proifes se reuniram com representantes do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Até o fim da noite, o encontro não havia se concluído. A expectativa dos grevistas era de que o governo apresentasse proposta de reestruturação da carreira docente, reabrindo as negociações. “Em substituição à carreira atual, com muitos níveis, defendemos uma estrutura mais simples, que valorize o trabalho docente e permita um ensino de qualidade. Para isso precisamos também de condições de trabalho, de salas de aula, laboratórios, bibliotecas”, explicou Marina Barbosa, presidente do Andes-SN.

Os professores da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) haviam aprovado indicativo de greve na semana passada, mas, em assembleia ontem, rechaçaram a paralisação. “A Unifei não entrará em greve e, pelo menos até o segundo semestre, não se toca no assunto. Temos esperança de que o governo apresente, de fato, uma proposta de reestruturação da carreira”, justifica o presidente do sindicato dos docentes da universidade, Agenor Pina. “Além disso, como o final do período letivo está próximo, não seria prudente fazer uma greve agora, isso prejudicaria muito os alunos”, salientou.

Estudantes já se sentem prejudicados

Nas universidades em greve os alunos já sentem os prejuízos. Giovane Fonseca, de 20 anos, cursa o 5º período de engenharia química na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Antes da greve, ele havia decidido ocupar as férias com um intercâmbio de três meses nos Estados Unidos, de dezembro deste ano a fevereiro de 2013. O problema é que, com a paralisação, o próximo período letivo, que se concluiria em novembro, deve se estender pelo menos até dezembro. Para não cancelar o intercâmbio, ele resolveu trancar a matrícula no próximo semestre.

“No 6º período do curso, há matérias ministradas apenas no segundo semestre. Por isso, quando voltar, não vou poder pegar algumas matérias do currículo. A greve vai atrapalhar minha grade toda nos próximos anos. Vou ter de correr atrás do tempo perdido, mas acho que minha formatura vai ser adiada”, afirmou Giovane.

“O pior é que você não sabe quando vai terminar a paralisação, a gente fica sem saber quando vai se formar. Pode ser que a gente perca o semestre”, afirma Adriano Soares, de 22, estudante do 7º período de engenharia mecânica na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). “Sem aulas, é inviável estudar as matérias em casa. Não contamos com o acompanhamento do professor”, justifica.

Graduanda do 7º período de história da UFSJ, Raína de Castro Ferreira, de 21, teme não conseguir se formar no fim do ano. “Acho muito justa a causa defendida pelos professores, mas é claro que a greve prejudica o andamento da nossa grade acadêmica e atrasa o calendário”, constata. Ela garante que consegue estudar “por fora” os assuntos previstos nas ementas das disciplinas. 


ONZE ESCOLAS PARADAS EM MG
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Universidade Federal de Lavras (Ufla)
Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop)
Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Universidade Federal de Alfenas (Unifal)
Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG)

Um anfitrião atrapalhado na Rio+20



A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, começa hoje sem grandes chances de produzir resultados significativos. Como anfitrião, esperava-se que o Brasil capitaneasse as discussões em prol de um mundo mais próspero, ambientalmente mais correto e socialmente mais justo. Mas faltou liderança.

É importante que encontros desta natureza gerem comprometimentos formais por parte dos participantes. São estas as poucas oportunidades de se obter, de fato, a aderência de um largo número de nações a uma orientação comum. Na Eco-92, por exemplo, logrou-se alcançar uma declaração com compromissos globais de combate ao desmatamento e ao aquecimento. Houve então, portanto, avanços.

No caso da Rio+20, o rascunho da declaração nasceu com menos de 20 páginas, pulou para quase 200 e segue por aí, indicando as dificuldades dos negociadores de focar as discussões. De todo o texto, apenas cerca de 20% obtiveram consenso entre os países-signatários até agora. Tudo o mais ainda é passível de debate, o que permite concluir que dificilmente a cúpula que começa na próxima semana conseguirá produzir um documento à altura das necessidades do planeta.

"A conferência não produzirá tratados marcantes como as convenções sobre mudança do clima e biodiversidade adotadas na Eco-92, duas décadas atrás. O documento final será provavelmente uma declaração anódina sobre economia verde, mais um slogan que preocupação real de governos e empresas", previu a Folha de S.Paulo em editorial no domingo.

O esforço dos países - e, em especial, dos anfitriões brasileiros - em direção a um novo acordo em torno do desenvolvimento sustentável deveria ser ainda maior depois que se tornaram conhecidas as conclusões do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) sobre o desenrolar das metas ambientais estipuladas nos últimos 40 anos.

Constatou-se um fracasso quase absoluto. Das 90 metas ambientais estabelecidas pela comunidade internacional em 1972, ano do primeiro grande encontro mundial sobre o tema, apenas quatro registraram avanços significativos. Em outras 24, o mundo estagnou e, em 14, o cumprimento dos objetivos sequer pôde ser medido, por falta de informações.

Para piorar, oito metas apresentaram retrocessos - entre os mais dramáticos está o aumento da poluição do ar, responsável, diretamente, por 6 milhões de mortes prematuras por ano. O mundo também andou para trás em objetivos relacionados a mudanças climáticas, desertificação, seca e manutenção dos recifes de coral no mundo.

Não apenas como anfitrião, mas também pelo potencial ímpar de que dispõe, o Brasil poderia liderar as discussões rumo ao desenvolvimento global sustentável. Mas o que menos se viu nos últimos meses foi algum protagonismo do governo Dilma Rousseff no debate e na preparação da Rio+20.

A esta altura, os anfitriões parecem se dar por satisfeitos se a conferência não descambar para problemas de logística e organização. A preocupação é tamanha que a própria presidente se lançou na microgestão da cúpula, num claro sinal de que lidera uma equipe com evidentes deficiências de desempenho.

"Dilma supervisiona pessoalmente a estrutura da conferência e chegou até a analisar o mapa de chegada dos chefes de Estado, calculando com a caneta o tempo de aterrissagem para evitar que os voos se sobrepusessem e tumultuassem a chegada de delegações estrangeiras", relatou a Folha na segunda-feira. Não tem como funcionar.

O descompasso e as dificuldades em lidar com a Rio+20 talvez possam ser explicadas pela postura da presidente e sua renitente adesão aos princípios da sustentabilidade. Desde que assumiu o Ministério de Minas e Energia, e depois como ministra da Casa Civil, ela sempre optou por confrontar os valores do conservacionismo. E assim se mantém.

Seu governo adota como lema "crescer, incluir e conservar", deixando clara qual é a ordem de suas prioridades. Não é de hoje que Dilma flerta com posturas antagônicas ao que propugnam os novos tempos de defesa do patrimônio ambiental e do desenvolvimento mundial sustentável. Em linha com seu temperamento, continua a agir como trator. Apresenta-se, portanto, como a pior líder com que a Rio+20 poderia contar.

terça-feira, 12 de junho de 2012

De boas intenções o Anel está cheio



Dilma anuncia hoje em BH liberação de R$ 17 milhões para começar a resolver um dos maiores problemas viários de Minas, cenário de tragédias que já mataram centenas nos últimos anos

Publicado no Estado de Minas – 12-06-12

Três semanas depois de liberar  um pacote de recursos para a recuperação de rodovias em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, no valor de R$ 4,3 bilhões, a presidente Dilma Rousseff (PT) desembarca hoje em Belo Horizonte para anunciar investimentos na área de transporte. No entanto, o valor que será liberado ainda se refere  ao primeiro passo para uma das obras mais esperadas por cerca de 120 mil motoristas que transitam diariamente pelo maior corredor viário da capital. A elaboração do projeto executivo para o Anel Rodoviário Celso de Mello Azevedo, estimada em R$ 17 milhões, vai dar início ao processo licitatório da via, mas as obras dificilmente começarão a sair do papel antes do segundo semestre do ano que vem e têm previsão de entrega só para depois da Copa do Mundo de 2014. 

O termo de compromisso que será assinado hoje entre a presidente e o governador Antonio Anastasia (PSDB) prevê a transferência da administração do anel para o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), órgão vinculado ao governo de Minas, que ficaria responsável pela licitação e execução das obras. O edital, que será publicado para a elaboração do projeto depois que o convênio for assinado, prevê melhorias em toda a extensão da via, com alargamento de alguns trechos, eliminando gargalos que representam perigo aos motoristas, criação de vias marginais, viadutos e passarelas. A expectativa é de que, com a liberação dos recursos federais e sob responsabilidade do governo estadual, o andamento da licitação seja mais rápido, uma vez que sob a gestão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) o projeto permaneceu por dois anos empacado. 

“O tráfego urbano cresceu muito nos últimos anos e tende a crescer ainda mais, o que torna as vias marginais essenciais para o trânsito em corredores movimentados como o anel. Também seria preciso rever os principais acessos que ligam o rodovia às avenidas da cidade. O que temos hoje são trevos incompletos que atrapalham a circulação geral, até mesmo de veículos que não transitam pela via. Na Pedro II, Amazonas, Via Expressa e Teresa Cristina, percebemos várias situações de caos que não podem ser evitadas por ausência de alternativas no anel”, explica Paulo Rogério Monteiro, do Departamento de Engenharia de Transportes da PUC Minas.

As estimativas levantadas pelo projeto executivo elaborado pelo Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e que foram revisadas depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) observou irregularidades em 12 pontos, calculavam o valor total da obra em cerca de R$ 650 milhões. Mas a nova diretoria do Dnit – os atuais integrantes tomaram posse depois do escândalo que resultou na demissão de toda a cúpula do órgão em julho do ano passado – não autorizou a utilização do projeto para o lançamento das licitações das obras e determinou que um novo documento fosse elaborado. 

Com as recorrentes tragédias dos últimos anos – só no ano passado foram registrados mais de 3 mil acidentes e 33 pessoas morreram –, no primeiro semestre de 2012 o anel foi palco de grandes transtornos para a população da capital. Por cinco meses, a via ficou interditada depois que uma parte do Viaduto São Francisco trincou, causando congestionamentos diários para quem passava no sentido Vitória. No mês passado, o transtorno aconteceu duas vezes para quem ia no sentido contrário, primeiro com um acidente com um caminhão que fechou a pista no sentido Rio de Janeiro; e causou um engarrafamento de 50 quilômetros, quando um caminhão de 274 toneladas que ocupava três faixas do anel quebrou na altura do Bairro Buritis e bloqueou a via por mais de três horas.

Polícia Federal apura o desvio de mais de R$ 100 milhões do Banco do Nordeste



Lembra o caso dos dólares escondidos na cueca? Uma investigação obtida por ÉPOCA revela desvio de dinheiro envolvendo o mesmo banco – e o mesmo partido político

Publicado na revista Época

No auge do escândalo do mensalão, em julho de 2005, nenhum caso chamou tanta atenção quanto os “dólares na cueca”, que levaram à renúncia de José Genoino à presidência do Partido dos Trabalhadores. Um assessor parlamentar do então deputado estadual cearense José Guimarães (PT), irmão de Genoino, foi detido pela Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Em suas roupas de baixo, havia US$ 100 mil em espécie. As investigações indicaram na ocasião que o dinheiro era propina recebida pelo então chefe de gabinete do Banco do Nordeste (BNB) e ex-dirigente do PT, Kennedy Moura, para acelerar empréstimos no banco. Passados sete anos, uma auditoria interna do banco e outra da Controladoria-Geral da União, obtidas por ÉPOCA, revelam um novo esquema de desvio de dinheiro. Somente a empresa dos cunhados do atual chefe de gabinete, Robério Gress do Vale, recebeu quase R$ 12 milhões. Sucessor de Kennedy, Vale foi o quarto maior doador como pessoa física para a campanha de 2010 do hoje deputado federal José Guimarães.

O poder de Guimarães sobre o BNB pode ser medido a partir da lista dos doadores de sua bem-sucedida campanha ao segundo mandato, dois anos atrás. A maior doação de pessoa física é dele próprio. A segunda é de José Alencar Sydrião Júnior, diretor do BNB e filiado ao PT. A terceira é do também petista Roberto Smith, presidente do banco no período em que ocorreram operações fraudulentas e hoje presidente da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará, nomeado pelo governador Cid Gomes (PSB). O atual presidente do BNB, Jurandir Vieira Santiago, vem em 11º. Eleito para a Câmara Federal pela primeira vez em 2006, com a maior votação do Ceará, Guimarães ganhou poder na Câmara. Tornou-se vice-líder do governo e passou a ser amplamente reconhecido como o homem que indicava a diretoria no Banco do Nordeste. No disputado campo de batalha da política nordestina, o BNB é território de José Guimarães.

O novo esquema de desvios e fraudes no banco nordestino segue um padrão já estabelecido na longa e rica história da corrupção brasileira: o uso de laranjas ou notas fiscais frias para justificar empréstimos ou financiamentos tomados no banco. Assim como na dança de dinheiro dos tempos do mensalão, as suspeitas envolvem integrantes do PT. Um levantamento feito por ÉPOCA mostra que, entre os nomes envolvidos nas investigações da CGU e da Polícia Federal, há pelo menos dez filiados ao PT. Apresentado ao levantamento e aos documentos, o promotor do caso, Ricardo Rocha, foi enfático ao afirmar que vê grandes indícios de um esquema de caixa dois para campanhas eleitorais. “O número de filiados do PT envolvidos dá indícios de ação orquestrada para arrecadar recursos”, afirma Rocha.

A maioria das operações fraudulentas ocorreu entre o final de 2009 e o início de 2011. Somados, os valores dos financiamentos chegam a R$ 100 milhões, e a dívida com o banco a R$ 125 milhões. Só a MP Empreendimentos, a Destak Empreendimentos e a Destak Incorporadora conseguiram financiamentos na ordem de R$ 11,9 milhões. Elas pertencem aos irmãos da mulher de Robério do Vale, Marcelo e Felipe Rocha Parente. Segundo a auditoria do próprio banco, as três empresas fazem parte de uma lista de 24 que obtiveram empréstimos do BNB com notas fiscais falsas, usando laranjas ou fraudando assinaturas. As empresas foram identificadas após a denúncia feita por Fred Elias de Souza, um dos gerentes de negócios do Banco do Nordeste. Ele soube do esquema na agência em que trabalhava, a Fortaleza-Centro, e decidiu procurar o Ministério Público, em setembro do ano passado. “Sou funcionário do banco há 28 anos. Quando soube do que estava acontecendo, achei que tinha o dever de avisar o MP”, diz. O promotor Rocha, depois de tomar conhecimento do teor e da gravidade das denúncias de Souza, chamou representantes do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União para acompanhar o depoimento.
Em um dos casos, fica evidente o aparelhamento político do banco por membros do PT. Souza denunciou a existência de um esquema chefiado pelo empresário José Juacy da Cunha Pinto Filho, dono de seis empresas que obtiveram mais de R$ 38 milhões do Banco do Nordeste, em recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), entre 2010 e 2011. Para conseguir financiamentos para compras de máquinas e veículos, foram apresentadas notas fiscais falsas, segundo o Relatório da CGU. Tudo era feito com a conivência de funcionários das agências bancárias e de avaliadores do banco. No caso da empresa Flexcar Comércio e Locação de Veículos, o então gerente de negócios da Agência BNB Fortaleza-Centro, Gean Carlos Alves, afirmou em laudo ter visto os 103 carros financiados pelo banco. Fred de Souza afirmou em depoimento que uma fiscalização identificou apenas 33. Segundo a investigação, Alves alterou os registros referentes aos gravames (documentos de garantia da dívida) dos veículos para liberar quase R$ 3 milhões para a Flexcar, aceitou notas fiscais falsas e falsificou o e-mail de um colega. Segundo o depoimento de Fred de Souza, Alves liberou R$ 11,57 milhões para três empresas de Pinto Filho usando uma senha dada pelo controle interno do banco e pela Gerência-Geral da agência. A gerência é ocupada por Manoel Neto da Silva, filiado ao Partido dos Trabalhadores.

Outras duas empresas de Pinto Filho obtiveram empréstimos em outra agência de Fortaleza, a Bezerra de Menezes, cujo gerente-geral é José Ricáscio Mendes de Sousa, também filiado ao PT. Segundo o depoimento de Souza, foi Mendes de Sousa quem atraiu Pinto Filho para realizar negócios com o banco. A sexta empresa de Pinto Filho envolvida no esquema, segundo as auditorias, é a JPFC Empreendimentos, que apresentou notas falsificadas para justificar um empréstimo de R$ 2,9 milhões. As notas foram assinadas por Antônio Martins da Silva Filho, filiado ao PT de Limoeiro do Norte, cidade cearense de onde chegaram à PF outras denúncias envolvendo o BNB, em dezembro último.

A investigação da polícia está sob segredo de Justiça, mas ÉPOCA obteve com exclusividade o depoimento de José Edgar do Rêgo, funcionário do banco há 32 anos. Desde março de 2010, Rêgo é gerente de negócios do Programa Nacional de Financiamento da Agricultura Familiar (Pronaf), coordenado pelo banco, em Limoeiro. Ele delatou um esquema, investigado pela PF, em que os beneficiados pelas linhas de crédito do banco não eram agricultores, mas motoqueiros, frentistas, professores municipais e taxistas. Tudo ocorreu em 2010.

Os projetos aprovados pelo banco eram apresentados por dois sindicalistas: Sidcley Almeida de Sousa e Francisco César Gondim. Ambos são filiados ao PT da cidade de Tabuleiro. Em suas visitas ao BNB de Limoeiro, eles eram sempre acompanhados pelo vice-prefeito de Tabuleiro, Marcondes Moreira, também do PT. Apesar das irregularidades na identificação dos beneficiados, os projetos eram aprovados. Entre os citados por Rêgo como envolvidos na aprovação dos projetos ainda estavam outros dois filiados ao PT: Ariosmar Barros Maia, da cooperativa técnica de assessoria e projetos, e Samuel Victor de Macena, que avaliou em R$ 180 mil imóveis cujo valor, medido pelo banco, não passam de R$ 53 mil. Os imóveis foram colocados como garantia dos empréstimos.

No meio de seu depoimento à Polícia Federal, foi questionado sobre a empresa Emiliano Turismo, investigada pela PF. Disse que “era de conhecimento público em Tabuleiro que a empresa Emiliano Turismo trabalhava como cabo eleitoral para os então candidatos a deputado estadual e federal Dedé Teixeira e (José) Guimarães, ambos do Partido dos Trabalhadores”. O deputado Guimarães nega qualquer tipo de relação com a Emiliano.

Rêgo disse ainda que a Emiliano Turismo montava projetos para ser aprovados pelo Pronaf. Ele afirma ter detectado falsificações em assinaturas do projetista José Ivonildo Raulino, em projetos apresentados pela empresa. Alguns deles foram aprovados pelo gerente-geral da agência, José Francisco Marçal de Cerqueira. Devido ao grande número de projetos do Pronaf na agência de Limoeiro, Marçal determinou que funcionários trabalhassem nos fins de semana. Alguns contratados passaram a ter a senha de Rêgo, gerente de negócios do Pronaf, para liberar os recursos quando ele não estivesse presente. Um deles era Otávio Nunes de Castro Filho, filiado ao PT. Ainda segundo o depoimento de Rêgo, Marçal autorizava e Isidro Moraes de Siqueira, então superintendente do banco e atual diretor de Controle e Risco, tinha conhecimento do que ocorria. Siqueira afirma que, informado das irregularidades, acionou a auditoria interna do banco. O maior responsável no banco pelos recursos do Pronaf é outro petista, indicado pelo deputado Guimarães: José Alencar Sydrião Júnior, diretor de Gestão do Desenvolvimento do banco, setor responsável pela liberação dos recursos do programa, e segundo maior doador da campanha de Guimarães.

O Ministério Público, Federal ou Estadual, ainda não recebeu o relatório da CGU nem a auditoria interna do BNB. A quebra de sigilos bancários dos envolvidos tampouco foi autorizada pela Justiça. Uma discussão judicial quanto à competência das esferas estadual ou federal para apurar as denúncias também postergou os trabalhos de investigação. Após várias idas e vindas, atualmente o processo está nas mãos do promotor do MPE Ricardo Rocha.

O atual presidente do BNB, Jurandir Vieira Santiago, assumiu o cargo em junho de 2011. Sua última administração também é alvo de uma investigação, que no Ceará ganhou o nome de “escândalos dos banheiros”. Até assumir a presidência do banco, no meio do ano passado, Jurandir era secretário das Cidades do Estado. O TCE investiga um esquema de superfaturamento na construção de banheiros em comunidades carentes no interior do Ceará. Alguns envolvidos já foram intimados a devolver R$ 164 mil aos cofres públicos.

O deputado Guimarães nega ter conhecimento das irregularidades e repudia qualquer envolvimento de seu nome relacionado a desvios de recursos no Banco do Nordeste. Ele diz que o ex-presidente Roberto Smith foi indicado pelo PT do Ceará com sua anuência. O comando do BNB diz nunca ter sido omisso quanto às irregularidades e que vários dos envolvidos foram demitidos. Robério do Vale, chefe de gabinete, afirma que sua função não interfere no processo de concessão de crédito. Ele diz que o banco deve apurar as irregularidades e punir os responsáveis. O ex-presidente do banco Roberto Smith diz não ter tomado conhecimento do relatório da CGU nem das conclusões da auditoria interna, por estar fora do banco desde 2011. Afirma que, no final de seu mandato, recebeu denúncia de desvios de crédito e encaminhou para a auditoria.

O promotor Rocha pediu ao banco que providenciasse segurança a Fred de Souza, autor da maior parte das denúncias. Souza recusou. Desde então, escapou de um tiro na rua e foi perseguido por motos duas vezes. Souza foi transferido de horário e função. Hoje, trabalha da meia-noite às 7 horas, avaliando o trabalho de atendentes do Serviço de Atendimento ao Cliente do banco. Ali, até o momento, não identificou nenhuma irregularidade.