quinta-feira, 28 de junho de 2012

Estímulo do governo dificilmente produzirá efeitos significativos


FONTE: Folha S. Paulo

Artigo do economista Luiz Carlos Delorme Prado



O Brasil não é uma ilha, e a crise econômica mundial chegou ao país. A desaceleração da economia brasileira tem duas causas: as ondas de choque da crise econômica internacional e a combinação dos efeitos domésticos da menor expansão do consumo das famílias e da queda dos investimentos públicos e privados.

A crise mundial começou com o crash do mercado imobiliário norte-americano (a crise do "subprime", hipotecas de alto risco) e alcançou a Europa. Afetou, inicialmente, o mercado financeiro e depois as contas públicas dos países mais vulneráveis.

Numa segunda fase, a crise vem ameaçando a existência do euro, mas também levou à desaceleração do crescimento dos Brics, embora de forma diferenciada.

O Brasil respondeu com sucesso à crise nos EUA depois do crash de 2008, com o aumento do consumo doméstico. O aumento da classe média, em decorrência do crescimento econômico e das políticas sociais do governo, favoreceu essa resposta.

Após as famílias terem respondido aos estímulos do governo com grande expansão do consumo -em parte, desperdiçado com uma taxa de câmbio sobrevalorizada-, o endividamento das famílias ficou elevado para as condições brasileiras.

Segundo dados do Banco Central, o estoque de crédito atual é de R$ 2,136 trilhões (maio de 2012), tendo alcançado 50,1% do PIB. Portanto, não há muita margem de crescimento por esse lado.

No momento, não é possível recuperar o crescimento econômico, a curto prazo, por meio de aumento do consumo privado. Resta o aumento do investimento.

O governo tenta aumentar o investimento privado por meio da redução da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), reduzindo o custo dos empréstimos do BNDES.

A resposta a esse estímulo, porém, dificilmente será suficiente para produzir efeitos significativos na economia. O governo não tem, portanto, outra alternativa a não ser aumentar o gasto público.

As cidades brasileiras precisam de investimento em transporte de massa, há carência de investimento em saneamento, necessidade de reformar e ampliar as estradas e os portos no Brasil. Por diversas razões, no entanto, o governo não tem conseguido aumentar o investimento de sua responsabilidade.

Como última saída, decidiu-se realizar gastos de curto prazo na aquisição de bens e serviços. Segundo a Folha, o governo aumentará as compras em R$ 8,4 bilhões este ano -comprará tratores, ambulância, trens, ônibus etc. A medida é bem-vinda e necessária. Mas muito pouco e muito tarde.


LUIZ CARLOS DELORME PRADO, professor do Inst. de Economia da UFRJ, é Ph.D em economia pela Universidade de Londres.


Para entidade, medidas anunciadas pelo governo não são suficientes

A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) classificou as medidas do governo como insuficientes para reverter o processo de "desindustrialização silenciosa" que afeta a indústria de transformação no Brasil.

"Aplaudimos as medidas e as consideramos necessárias, mas não são suficientes para garantir o estímulo à cadeia da indústria de transformação", disse Carlos Pastoriza, diretor da Abimaq.

Ontem, a associação divulgou novos dados. O consumo aparente atingiu R$ 10,9 bilhões para o mês de maio, crescimento de 24,4% sobre o mês de abril e de 16,1% sobre o mesmo mês do ano passado.

A recuperação, no entanto, tem ajudado as importações e não a produção local. As importações cresceram 26,8% de abril para maio, enquanto as exportações subiram só 4%. A ociosidade subiu para 25%. O setor já cortou 5.400 empregos desde outubro.

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