segunda-feira, 4 de junho de 2012

Falta de reformas estruturais afeta dinâmica do crescimento


Publicado na Folha de S.Paulo




Artigo de Carlos Eduardo Soares Gonçalves, professor titular da Fea-Usp.


O PIB brasileiro do primeiro trimestre decepcionou, ficando abaixo das projeções mais pessimistas dos economistas. O avanço de 0,2% em relação ao quarto trimestre do ano passado vem na sequência de números fracos já nos dois trimestres prévios.

O quadro é de clara estagnação da atividade, não podendo ser caracterizado como desaceleração atípica.O "puxador" da recessão foi o investimento, em queda acentuada de 7% em termos anualizados. O consumo, mais estável, cresceu, em termos anualizados, 4%.

Esses dados, com a fragilidade da atividade econômica no transcorrer do segundo trimestre, sugerem que 2,5% de crescimento para 2012 vai virar teto das projeções.

A perspectiva de dois anos de crescimento abaixo de 3%, após um crescimento médio acima de 4% na era Lula, deve estar deixando o Executivo de cabelo em pé. Mas quais as pedras no caminho?
O mundo vai mal das pernas, e essa pedras não podemos movê-las nós. A China desacelera mais forte do que pensávamos, em parte devido à Europa, que pode escorregar para uma crise bancária cujo custo seria um múltiplo maior do que 1 do evento Lehman Brothers.

Os EUA entraram em 2012 criando pouquíssimas vagas de trabalho, e têm à sua frente a ameaça recessiva de contração fiscal brutal para 2013.O diagnóstico para nossas mazelas envolve outras coisas. Parte da esfriada da economia deriva da fragilização da dinâmica do crescimento por conta de fatores internos.

Colhemos os frutos da transição suave de governo em 2002 e das reformas estruturais implementadas até 2005 (Previdência, sistema de crédito, legislação falimentar). Mas, em 2005, a agenda de reformas pró-crescimento foi congelada e pouco foi feito nos últimos sete anos.

Crescer com políticas de impulso de demanda no pós-crise de 2008 foi fácil, mas para prolongar essa dinâmica precisaríamos ter encetado uma segunda rodada de reformas. Nada foi feito, e agora que o mundo piora de novo, os custos da complacência se tornam claros.

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