Publicado pela Veja
A entrega de 281 apartamentos do
programa Bairro Carioca, construído pelo Minha Casa, Minha Vida, do governo
federal, seria o pontapé ideal para o início da campanha de reeleição de
Eduardo Paes no Rio de Janeiro. Com presença da presidente Dilma Rousseff e do
governador Sérgio Cabral, o evento no bairro de Triagem, na zona norte, estava
lotado de eleitores. Um tumulto provocado por um protesto de estudantes, no
entanto, tirou o brilho da festa. Quando a presidente assumiu o microfone, a
programação desandou. Um grupo de 20 pessoas abriu cartazes para cobrar que 10%
do PIB sejam investidos em educação. Dilma fez um pronunciamento breve,
tentando ignorar a confusão na plateia, mas era impossível não notar o estrago.
Uma das estudantes, Gabrielle d’Almeida,
que cursa nutrição na Uni-Rio, afirmou que um segurança, ao puxar o cartaz de
sua mão, deu um soco em seu nariz. “Depois, quando tentei tirar uma foto do que
estavam fazendo, tacaram meu celular no chão”, disse. Os estudantes tiveram de
enfrentar também a revolta de parte dos moradores, que não gostaram da
intromissão na entrega das novas casas. Copos d’água e papel foram jogados
contra os manifestantes, que pertencem a União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas (Ubes) e da União Nacional dos Estudantes (UNE).
O empurra-empurra continuou até o fim do
evento. “Estamos dando mais um passo para colocar um tijolo na construção de um
Brasil melhor. É o tijolo que Eduardo Paes, Sérgio Cabral e o governo federal
estão colocando aqui”, disse Dilma, enquanto a confusão tomava conta da
plateia. É a segunda manifestação de estudantes que Dilma enfrenta em apenas
dois dias. Na última quinta, em São Bernardo do Campo,
estudantes da Universidade Federal do ABC a receberam com camisas pretas e
faixas de protesto.
Silêncio - O prefeito Eduardo Paes, que só fará campanha a
partir deste sábado, evitou fazer declarações no palco. Na quinta-feira, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) respondeu a uma
consulta do PMDB sobre a participação de Paes em inaugurações.
No entendimento do tribunal não há ilegalidade, pois o período de restrições
começa no dia 7 – três meses antes do primeiro turno das eleições municipais. O
desencontro nos calendários de restrições e de campanha criou nesta sexta-feira
uma janela para eventos desse tipo.
O maior cabo eleitoral de Paes foi o
governador Sérgio Cabral. Com elogios rasgados à gestão do prefeito carioca –
de quem foi o principal cabo eleitoral em 2008 – o governador bateu na mesma
tecla da última eleição: o alinhamento dos governos federal, estadual e
municipal. “A prefeitura assumiu o terreno da Light degradado, com produtos
químicos que podem matar. O prefeito enxergou nesta área a possibilidade de
criar um bairro. Quem dissesse isso seria taxado de maluco”, afirmou Cabral.
“Foi o prefeito com a equipe dele que viu aqui a possibilidade de ter uma parte
do Minha Casa, Minha Vida”.
O Bairro Carioca recebe, entre outros
novos moradores, desabrigados das chuvas de abril de 2010, quando áreas de
risco em favelas foram destruídas pelos deslizamentos de terra. Alguns perderam
suas casas, outros precisaram sair depois que os imóveis foram interditados
pela Defesa Civil.
Ainda nesta sexta-feira, Dilma, Cabral e
Paes têm uma inauguração no Hospital Municipal Miguel Couto, na zona sul. O
prefeito seguirá ainda para um terceiro lançamento: as obras do Parque
Olímpico, na zona oeste. Esta será a última inauguração de obras do projeto
olímpico do Rio. O parque será o principal ponto de concentração de competições
em 2016.
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