quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Medidas contra crise em dose homeopática

Governo divide pacote de infraestrutura. Amanhã saem as concessões de rodovias e ferrovias e a redução na conta de luz. Plano inclui estradas em Minas e prevê investimentos de R$ 93 bi


Publicado no Estado de Minas – 14-08-12

A presidente Dilma Rousseff está finalizando um pacote de concessões em infraestrutura que será apresentado em doses homeopáticas. Amanhã, ela anunciará a primeira parte desse plano para um grupo de cerca de 30 empresários, com uma série de concessões de rodovias e de ferrovias à iniciativa privada e a eliminação de encargos sobre a conta de energia elétrica. Ao todo, serão mais de R$ 93 bilhões em investimentos ao longo do período tradicional de concessões (de 25 anos para rodovias e de 30 para ferrovias).

Com o anúncio, Dilma pretende dar uma “nova roupagem” para obras já previstas no segundo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC2) e que ainda nem saíram do papel e outras que tiveram seus leilões adiados, como é o caso do Trem de Alta Velocidade (TAV) entre São Paulo e Rio de Janeiro. O trem bala, por exemplo, será relançado com pompas e os investimentos iniciais previstos serão os mesmos: R$ 33,2 bilhões. Esse montante será somado aos mais de R$ 60 bilhões previstos nas concessões de nove trechos de autoestradas, ao todo seis mil quilômetros, e de 8 mil quilômetros de ferrovias. Entre as obras a serem anunciadas estão a BR 116, em Minas Gerais, a BR 040, trecho de Brasília a Juiz de Fora (MG), a do Ferroanel da Grande São Paulo e de um novo trecho da Norte-Sul.

Amanhã, durante o anúncio aos empresários, Dilma atenderá a um dos principais pedidos do setor com a boa notícia de um programa de redução de custos da energia elétrica que contará com a extinção de alguns encargos na conta de luz. Essa medida é crucial para melhorar a competitividade da produção nacional. Um levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) revela que a tarifa de energia para a indústria brasileira é 134% superior à media dos demais parceiros do Bric: China, Índia e Rússia. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, sinalizou no mês passado o fim de pelo menos quatro encargos: da Conta Consumo de Combustíveis (CCC), da Reserva Global de Reversão (RGR), da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e do Proinfra. Segundo ele, isso implicará em uma diminuição acima de 10% no custo da energia para o consumidor.

Aeroporto de Confins

Na semana que vem, Dilma divulgará o próximo dos seis pacotes de concessões. Um deles é o de concessão de aeroportos, cujos modelos estão sendo fechados e caminham para o resgate das Parcerias-Público-Privadas (PPPs). Serão mais três terminais aéreos: Confins (MG), Galeão (RJ) e um no Nordeste, ainda a ser definido. Na sequência, virão os planos para portos e as concessões de energia elétrica, cujos contratos vencem nos próximos dois anos e o governo ainda não definiu se vai optar pela renovação ou por novas licitações. Por último, virá o pacote de hidrovias.

Com esse novo programa de concessões, o governo também pretende destravar as Parcerias Público-Privadas (PPPs). O primeiro passo nesse sentido foi a medida provisória publicada na semana passada que aumenta de 3% para 5% o limite de endividamento dos governos estaduais e municipais nesse tipo de parceria. Com isso, a presidente também espera destravar os R$ 20 bilhões de recursos parados no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que ainda não teve propostas dos governos. As reuniões da presidente para fechar os pacotes estão sendo intensas e diárias com sua equipe. Ontem, ela esteve novamente reunida com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, por exemplo.

Encontro Esta será a terceira vez no ano que Dilma se reúne com os pesos-pesados da indústria nacional, que viraram uma espécie de conselheiros da presidente na elaboração do pacote de infraestrutura. O Palácio do Planalto quer estimular o setor privado a ampliar os investimentos para tentar dar um gás no fraco Produto Interno Bruto (PIB). O governo admite que o país não consiga mais avançar 4% este ano, como previa inicialmente. Na avaliação do economista da Capital Econômica, Neil Schering, que estima 1,7% de expansão do PIB brasileiro em 2012, essa política de estímulo do governo terá, infelizmente, um efeito bem menor do que o ocorrido no passado.

Mercado mais pessimista

Em queda até o início de julho, as perspectivas de desempenho da inflação voltam a se afastar do centro da meta de 4,5% fixada pelo governo. Pela quinta vez consecutiva, analistas de mercado ouvidos pelo Relatório Focus do Banco Central projetaram para cima o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, que passou de 5% para 5,11%. O percentual pode sofrer novas revisões diante do avanço de preços de alimentos e serviços. Na contramão, as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2012 caiu pela segunda vez seguida, chegando aos atuais 1,81%.

A consultoria Tendências é ainda mais pessimista ao estimar em 1,6% o crescimento econômico para este ano. “A mudança se concentrou no segundo trimestre. Acreditamos em resultado de 0,4% no período”, afirma o analista Thiago Curado. A motivação para as perspectivas menos animadoras está no desempenho dos índices referentes aos meses de abril a junho, especialmente de produção industrial. “O que mostra é que a reação da economia foi postergada”, observa.

O aguardado reaquecimento da atividade econômica deve responder por alta de 4% do PIB no segundo semestre, segundo avaliação do especialista. “Essa recuperação deve ocorrer para que alcancemos os 1,6% previstos”, alerta. A indústria não deve garantir grandes contribuições para o resultado. Já prevista para fechar o ano negativa, a produção industrial teve desempenho estimado em -1% pelo relatório Focus, contra queda de 0,69% há uma semana.

O IPCA por sua vez, está acima do apontado pelo mercado, chegando a 5,2%. O novo patamar foi justificado pelo resultado surpreendente da inflação em julho. Estimado em 0,36% pela instituição financeira, o índice fechou em 0,43%. E ainda há novos riscos de alta neste semestre, segundo análise do banco. Para o coordenador do curso de economia do Ibmec, Márcio Salvato, o desempenho de preços de alguns segmentos nos últimos dois meses justificam essa virada.

Alimentos

“Commodities agrícolas ficaram mais pressionadas. O câmbio valorizou e os importados mais caros começaram a chegar”, explica. Soja e milho estão entre os produtos agrícolas que registraram altas consideráveis de preços diante da quebra histórica de safra nos Estados Unidos. Relatório do Bradesco pondera que as elevações de custos observadas nos últimos dois meses ao produtor começaram a aparecer e devem chegar aos poucos na ponta do consumo, com um atraso de três a seis meses.

Thiago Curado ainda soma a estes fatores, o reajuste de combustíveis, em especial o diesel que subiu 6%. “O cenário portanto é de interrupção da convergência da inflação para o centro da meta que tínhamos observado no primeiro semestre. Mas deve manter a oscilação em torno dos 5,10%”, estima o analista. Alta que não deve influenciar a estratégia de política monetária do governo. O Boletim Focus manteve, por mais uma semana, a previsão de Selic na casa dos 7,25% para este ano.

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